quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Senhora do meu silêncio

Senhora do meu silêncio

Guardo palavras que me atiram
Num saco de veludo atado 
Do lado esquerdo do meu peito guardado 
À espera de um grito que quando soltado 
Todo o sofrimento seja libertado.
Enquanto tal não acontece 
Dentro do meu peito cresce
Algo que nem carece 
De uma qualquer prece
Pois quem palavras atira 
Sem as mesmas ameigar
Não necessita de ladainhas 
Para se indultar.
Neste mundo tão artificial
Há os ofendidos, os ofensores
Cada um dono das suas próprias dores.
Qual dos dois terá a razão
Quem souber levante a mão!
Nesta questão manda a prudência 
Refugiar-me no meu palácio
Lá sou dona e senhora… 
Senhora do meu silêncio.


© Manuela Rodrigues

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Gosto de ti!

Gosto de ti!

Gosto tanto que não consigo viver sem
Gosto tanto que partirei e ficarás bem.
Gosto de ti!
Estás sempre para mim disponível
Ainda que cheio, encontro em ti um cantinho
Onde derramo sentimentos sem fim
Dores, afetos, pensamentos de mim.
Das tuas linhas faço meus caminhos
Dos teus espaços meus desalinhos.
És mais paciente que muitas pessoas
Umas melhores, outras menos boas.
Machuco-te, atiro-te para bem longe
Desfaço-me de ti quando não te quero
Mas o que em ti verto não consigo apagar
Porque em ti escrevo o que não consigo falar.
Gosto de ti, papel!


© Manuela Rodrigues

sábado, 19 de outubro de 2013

Tributo às mãos

imagem retirada de stelalecocq.blogspot.com
Tributo às mãos

Mãos…
Umas grosseiras, outras delicadas
Umas odiadas, outras amadas.
Umas de paz, outras de guerra
Com as mãos se acerta e também se erra.
Mãos…
Muitas histórias revelam
Muitas outras encobrem
Sejam mãos de mulher
Sejam mãos de homem.
Mãos…
Com precisão e rigor
Com elas fazem arte
Com alegria e com dor
Da vida são baluarte
Mãos…
E quando as tuas entrelaçam as minhas
Para o tempo, sinto a emoção
De quem segura com medo
Um frágil coração… nas mãos.


© Manuela Rodrigues

domingo, 13 de outubro de 2013

Reencontro

imagem retirada de http://www.orkut.com
Reencontro

Saudade que aperta no peito por um amor que há muito partiu
Com doces lembranças se deleita, essas o destino não destruiu!
Àquela praia distante, onde o mar ousou recolhê-la
Ele vai sempre que pode, na esperança de conseguir vê-la
Horas a fio a contemplar o mar que seu rival fizera
Acabou por adormecer continuando à sua espera
Acordara já de noite sob um céu limpo e estrelado
Com a lua intensamente brilhante e o mar estranhamente parado
Eis que ao longe no horizonte uma figura reconheceu
Era sua amada querida envolta num encantado véu
As pernas entorpecidas, a voz mais que embargada
Não se conseguia mexer nem tão pouco falar nada
Ela no seu corpo tocou e no seu véu o envolveu
Ele ternamente a abraçou sentindo o coração dela no seu
Do luar fizeram o lençol, as estrelas sua luz apagaram
O mar retirou-se de mansinho e os dois ali se amaram
Um doce sorriso esboçou quando uma quente carícia sentiu
Ficou quieto e chorou assim que seus olhos abriu
A carícia que sentira, fora o sol que lhe tocara
Adormecera naquela praia… afinal apenas sonhara
E quando ia embora de coração despedaçado
Repara num véu de cetim que ali haviam deixado
Pegou-lhe com carinho, devastado pela dor
Na certeza que tinha estado nos braços do seu amor
Impregnado na sua pele seu perfume tinha ficado
Fora a sua despedida, sabia-a do outro lado



© Manuela Rodrigues

sábado, 12 de outubro de 2013

Amantes improváveis


Amantes improváveis

Dizem que o sol e a lua têm um caso de amor
Vivido em segredo, num desencontro esmagador.
Cada um tem sua hora para o céu enfeitar
É por isso que o sol se põe e deixa a lua brilhar.
As saudades apertaram e num desejo ardente
A lua apareceu no céu, numa tarde de sol quente!
Ao longe se olharam, ela tímida, ele pujante
Ele acariciou-a levemente, ela sorriu radiante.
Durante a noite ali estava, com um sorriso estampado
A lua que horas antes tinha visto seu amado.
Dizem que o Universo abençoa este amor
E permite aos dois amantes um encontro sedutor
E diante um do outro trocam juras de amor eterno
O sol deixa de brilhar, eclipsa-se num momento terno.
Lentamente se separam, despedindo-se com a certeza
De quem sabe que tão cedo não estarão juntos… que tristeza!


© Manuela Rodrigues

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Fantasia


Fantasia

Parada num tempo que não existiu
Sonho com paisagens que ainda ninguém viu
Num tempo distante por elfos habitado
Voo num céu de cor purpura iluminado

Num mundo distante onde tudo é fantasia
Duendes e fadas por todo o lado via
Um rasto perfumado por todo o caminho
Levou-me à presença do mago adivinho

Olhou para mim de forma intensa
Baixei o olhar perante tal presença
Num gesto delicado meu rosto tocou
Levantei os olhos e meu corpo gelou

Trocados olhares em silêncio me falou
Percebi, assim, de onde vim, para onde vou
Vim de um tempo que não existe mais
Povoado de seres muito especiais

Na minha bagagem levo alguns valores
Preciosas poções para aclamar as dores
Dores de alma tantas vezes arranhada
Por todos aqueles que não sentem nada

Não posso voltar para trás
O portal do tempo foi encerrado
O que faço por aqui
Sem um cavalo alado?

Eis que olho para o céu de luto vestido
E vejo o mago adivinho num pequeno postigo
Num olhar sentido pedi para voltar
E com estrelas escreveu “Tens de ficar!”

Em pouco tempo as memórias apagarei
Vivendo neste mundo sem magos nem rei
E todos os dias do saco dos valores
Tirarei poções com cheiro a flores

Se algum de vós um dia encontrar
Sentirei na alma a cor purpura do luar
Onde elfos e ninfas outrora viveram
Voltarei em sonhos… esses não morreram.


© Manuela Rodrigues